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FAZENDA BOA ESPERANÇA - BELO VALE MG - Berço da história da família Ferreira de Mendonça
O Vale do Paraopeba/MG, margeado por uma miríade de rios e riachos,
contornado por montanhas e serras que outrora forneceram ouro para a Coroa
Portuguesa, constitui, neste artigo, o cenário principal. Surgidas na região
Mineradora Central Oeste,12 a sociedade e a economia dessa
circunscrição geográfica não se caracterizaram apenas pelo fausto do ouro.13 Plantações de milho, feijão, mandioca
(considerada o "pão cotidiano") e outros alimentos cresceram nas
terras férteis das fazendas e sítios. Da mesma maneira, a criação de animais, o
comércio, a circulação e a troca de mercadorias foram a tônica das vilas e
cidades no Oitocentos mineiro. Ainda hoje é possível percorrer o Vale e se
deparar com pequenas cidades que, a despeito das dificuldades e dos entraves
políticos, conseguiram preservar parte do seu centro "histórico".
Afora as muitas e majestosas cachoeiras, o visitante também pode descobrir
fazendas centenárias, como a Boa Esperança, localizada no município de Belo
Vale, ou a Palestina, nos limites da cidade de Bonfim. Apesar de poucos, esses
exemplares constituem importantes referenciais, que permitem ao pesquisador
recompor e acompanhar as transformações ocorridas na região, seja em função do
tempo, seja pelas mudanças de estilos, padrões estéticos e arquitetônicos.
Do mesmo modo, os artefatos dispostos nos museus14 - mesmo que de forma aleatória e pouco
sistemática - e aqueles localizados por meio das imagens fotográficas (dos
séculos XIX e XX)15 possibilitam elaborar um esboço da
vida social e cultural da sociedade brasileira do passado, em especial da
mineira. No entanto, os inventários oferecem, conforme nos lembra Meneses,
"uma inflexão no circuito da vida social do artefato", lançando-se em
outro ciclo, qual seja: o momento em que a vida de um dos cônjuges se esvai e a
família precisa fazer o balanço material de toda uma existência.
Por meio das fontes cartorárias, pôde-se perceber como a cultura material
das sociedades do passado configurava-se de forma vagarosa, permeada por
detalhes, quase imperceptíveis aos olhos contemporâneos. Por isso, a tarefa que
se impõe ao historiador é a mesma de um arqueólogo: trabalha-se com minúcias,
às vezes os únicos vestígios que sobreviveram ao tempo e ao homem. Dessa forma,
foi necessário adentrar figurativamente nas casas e fazendas, vasculhar
quartos, salas, visitar hortas e pomares, para entender o que as pessoas
vestiam, como se trajavam, se alimentavam e, principalmente, quais eram seus
artefatos e como elas se relacionavam com os objetos da casa e do trabalho.
Consequentemente, algumas questões se impuseram.
A associação entre a fazenda da Boa Esperança, tombada pelo
Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, e o seu
inventário (1905), mais de 150 anos depois de sua construção, representa aqui
um importante ponto de inflexão.45 A distância temporal que separa a
construção e o documento permite traçar comparações não só entre diferentes
momentos históricos, mas também entre, pelo menos, duas realidades distintas.
Contradições que se expressam na mão-de-obra utilizada (escrava e livre), nos
novos referenciais de riqueza (escravos versus terras) e na introdução de novos
elementos materiais, como se pode notar a seguir.
Em 1905, a fazenda da Boa Esperança pertencia ao coronel José
Ferreira de Mendonça, casado com dona Luiza Ferreira de Mendonça.(Pais de João Batista Ferreira de Mendonça e avós de Paula Ferreira Duarte) O espólio,
avaliado em 56:337$620 contos de réis, constituía a terceira maior fortuna
encontrada no período pós-1888.46 No começo do século XX, Boa Esperança
chegou a possuir 1.015 alqueires de terras e foi avaliada em 32:820$700 contos.
Entre os "20 alqueires de mattos virgens, 50 de pasto de melloso, 305 de
campos de criar, 300 de campos de um e outro lado da serra e 340 de terras de
cultura", destacam-se, ainda, as sete casas distribuídas na vila e na área
rural.
No entanto, era na Boa Esperança que o coronel Mendonça vivia com
sua família. O massame da fazenda compreendia:
(...) Casas de vivenda, um correr de casas no terreiro, engenho de
cilindro, engenho de serra, moinho, paiol, uma máquina de manteiga, seva de
porcos, algumas cobertas de telhas, um grande pomar, três pastos pequenos ao
redor da casa avaliados pelos louvados em 6:000$000 contos de reis.47
Relacionada a essa descrição, sabe-se que grande parte da fazenda
era "tapada por cerca de arame", o que contrastava com os arvoredos
de espinhos e os muros de pedras dos séculos anteriores. Uma vez que os imóveis
passaram a constituir o bem mais valioso da sociedade na época, era natural que
fossem introduzidos meios mais eficazes (e, sobretudo, mais práticos) de
proteção. Utilizar fios de arame era, agora, sem dúvida, muito mais econômico
do que construir centenas de metros de muros de pedra ou barro, atividade antes
confiada aos escravos.
O sistema de trabalho estabelecido depois de 1888 exigia
adaptações por parte dos proprietários e trabalhadores. Adequações que passavam
tanto pelos novos arranjos de mão-de-obra como também por outras formas de organização,
sistematização e racionalização das atividades manuais e, posteriormente,
industriais. Não é coincidência que, juntamente com as listas de despesas de
funerais, contas de armazéns e receitas médicas, comuns nos inventários
oitocentistas, comecem a surgir, no período pós-Abolição, gastos efetuados com
a contratação dos "camaradas" e demais trabalhadores livres.48
A incorporação de diferentes técnicas e atitudes no tocante às
ocupações, aos equipamentos e aos utensílios constitui apenas um exemplo da
nova relação homem/artefato estabelecida a partir de então. Entre os objetos do
interior da Boa Esperança, vários catres, mesas, canapés, cadeiras de palhinha,
"sophás", armários e guarda-louças foram identificados. Equipamentos
como o novo debulhador de milho importado da América do Norte, os engenhos de
serrar madeira, a máquina de fazer manteiga, o engenho de cilindro, só para
citar alguns itens, permitem identificar como homens e mulheres estavam atentos
às novas formas de processar os alimentos.
Do mesmo modo, observa-se uma sensível alteração nos padrões
socioculturais no interior da moradia. O aparecimento e a difusão dos
lavatórios de ferro são algumas das manifestações dessa sutil, mas
irreversível, metamorfose, que envolve novas maneiras e posturas em relação ao
corpo e à higiene dos moradores. No que tange ao asseio das casas, os relatos
dos viajantes estrangeiros ressaltam a sujeira das cozinhas brasileiras e a
desorganização das moradias na primeira metade do Oitocentos, independentemente
do grupo social no qual as famílias estavam inseridas. O difícil acesso a
equipamentos e à água - disponíveis somente em chafarizes e cisternas - deve ser
levado em consideração. Por isso, a presença significativa dos lavatórios de
ferro, bem como as descrições sobre o encanamento de água que começam a
aparecer no final do período, são indicadores de novos padrões socioculturais
que se fixavam lentamente na sociedade.
Conclusão
As análises realizadas aqui evidenciaram, enfim, que manter o
plantel de cativos até os momentos que antecederam o fim do trabalho
compulsório, não constituiu, por parte da sociedade, uma preferência pelos
padrões escravistas ou uma predisposição para a manutenção da escravatura. Sem
incentivos e políticas específicas, como os destinados às regiões
agroexportadoras, manter a escravaria até quando fosse possível representou uma
"alternativa" admissível naquele momento. Por isso, o
"apego" dos mineiros à posse de escravos destacado por Roberto
Martins, ou a "mentalidade aristocrática" de João Fragoso e Manolo
Florentino, devem ser compreendidos aqui com ressalvas, principalmente no que
tange às diferentes temporalidades trabalhadas e ao tipo de produção e economia
exercidas no Vale.56
Se o fim da escravidão desestruturou temporariamente a sociedade e
a economia, nota-se, por outro lado, que o final do século XIX - marcado agora
pelo trabalho livre, pela República e pela transferência da Capital mineira -
acabou introduzindo gradativamente novas posturas e maneiras de relacionar-se
com os objetos da casa e do trabalho. A referência ao saneamento (água
encanada), a maior utilização do vidro nas construções, a popularização do
armário, a difusão do lavatório de ferro, do fogão de ferro e a incorporação de
novos utensílios de trabalho, como o debulhador de milho trazido da América do
Norte, indicam alterações significativas e irreversíveis nas estruturas interna
e externa das moradias. Ademais, não é coincidência que o aparecimento das
despesas com "camaradas", a menção às "casas de escolas" e
gastos realizados com a educação dos filhos, conforme exemplifica o colégio de
Congonhas do Campo, comecem a aparecer nesse período.57 Tais fatos anulam a dicotomia fausto versus decadência e sublinham que, embora a
queda do patrimônio tenha sido expressiva, isso não se traduziu numa estagnação
paralisante.
Do mesmo modo, se este estudo permitiu concluir que a redução do
patrimônio, do tamanho médio das propriedades e a fragmentação dos espólios
alteraram os referenciais de riqueza, sofisticação e luxo, por outro lado não
se pode dizer que a significativa diminuição numérica do grupo A (5%), no
começo do século XX, tenha colaborado para a formação de uma sociedade mais
homogênea e com uma maior redistribuição da riqueza. Outras formas de controle
social e econômico estavam sendo equacionadas a partir de então, como a
valorização das terras sugere. Embora de forma discreta, percebe-se ainda que
diversos investimentos, pouco a pouco, começaram a marcar novos ritmos sociais
e econômicos. As ações na Companhia de Tecidos Santa Anna e as eventuais "cadernetas
da Caixa Econômica da União Federal" ou da "Caixa Econômica do Estado
de Minas Gerais" são alguns exemplos.58 Indícios de tempos balizados, agora,
por distintas formas de arquitetar a riqueza, de interagir com a economia e de
relacionar-se com os objetos da casa e do mundo do trabalho livre.
Constata-se, afinal, que, a partir dos anos 1990, vários estudos
acerca dos elementos materiais, do patrimônio, da fortuna, da pobreza e da
organização da estrutura doméstica da família e da sociedade em diferentes
localidades do Brasil foram empreendidos na historiografia brasileira.
Confirma-se, da mesma forma, uma maior necessidade de inventariar e comparar os
resultados auferidos até então.59 Desse modo, as questões levantadas
neste artigo podem adquirir outras nuances, ganhar contornos e significados diferentes
e/ou complementares daqueles aqui apresentados. Ressalve-se, porém, que novas
perspectivas de análise, ao contemplarem diretrizes nacionais para a discussão
das economias de abastecimento, não invalidam as especificidades da cultura
material e da riqueza do Vale do Paraopeba.Legados de um passado escravista: cultura material e riqueza em
Minas Gerais*
Heritages from the slavery past: material
culture and wealth in Minas Gerais
Cláudia Eliane Parreiras Marques Martinez
Departamento de História, Universidade Estadual de
Londrina/Paraná. Caixa Postal 6001. CEP 86051-990. Londrina. PR. Brasil. cepmarques@uol.com.br
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